sexta-feira, 3 de maio de 2013

O Jovem Espírita - Capítulo X - "No Passado e no Presente"


              - Aonde eu parei mesmo? – perguntou Otávio.
            - Você tinha acabado de passar na prova pra contabilista do exército e ia viajar pra Natal... – respondeu ansioso Tiago.
            - É mesmo... Pois bem, continuando com a história... Helena estava uma fera comigo, no dia seguinte ao mal entendido...
           
“Aconteceu alguma coisa Helena?” – perguntou Beth, uma colega de serviço de Helena no bar. “Com certeza tem homem envolvido, num tem?”
            “Eu não quero falar disso agora...”, respondeu Helena tentando desviar do assunto.
            “Tá bom... Não tá mais aqui quem falou... Só que chegou pra você umas flores. Estão lá na dispensa.”
            Helena surpresa foi até a dispensa verificar, lá estava um buquê com orquídeas brancas muito perfumadas, ao lado havia um bilhete que dizia o seguinte:

DESCULPE-ME, NÃO FOI MINHA INTENÇÃO.
ASS. OTÁVIO

                Helena estava muito magoada, e não era um simples pedido de desculpas e flores que a fariam perdoar Otávio. Numa atitude de raiva, ela amassou o bilhete e jogou no lixo. E passando por Beth novamente para pegar o avental para mais um dia de trabalho, diz:
            “Se você quiser pode ficar com as flores...”
           
- Vish... A vovó era brava heim? – disse Tiago assustado para o avô.
            - Nem tanto quanto parece Tiago, é que quando estamos com raiva, normalmente fazemos e falamos coisas impensadas, é muito perigoso. Deve-se tomar muito cuidado para não magoarmos as pessoas que amamos. Mas voltando para a história... Assim foi por uma semana, eu enviando flores e mais flores com pedidos de desculpas para ela, e ela me ignorando. Até que chegou o dia da minha viagem pra Natal, então eu escrevi uma última carta pra ela.
           
“Chegou outro buquê pra você Helena...” – disse Beth quando Helena entrou no trabalho. – “Esse seu admirador é persistente heim?”
            Helena nem deu importância para o que Beth falava e foi mais uma vez “receber” o presente. Desta vez o bilhete dizia:

SEI QUE VOCÊ NÃO QUER ME VER E QUE ESTÁ ME IGNORANDO, MAS EU QUERIA DIZER QUE ESTOU VIAJANDO AMANHÃ DE MANHÃ PARA A CIDADE DE NATAL.
EU GOSTO MUITO DE VOCÊ E QUERO QUE VOCÊ SEJA MUITO FELIZ.
ASS: OTÁVIO.
                Helena desta vez demorou um pouco a olhar a mensagem. Pensou pesarosamente: “Então ele está indo embora...”; mas, logo se recobrou e pensou, enquanto amassava mais um bilhete: “Que vá... É um favor que ele me faz...”.
           
- Putz! A vovó “tava” muito “grilada” com o senhor, mesmo... – disse Tiago surpreso novamente.
            - Sua avó foi uma pessoa muito amável, mas naquela época conservava um ódio muito grande pelo mínimo descontentamento. Pra você ver meu filho, o que o rancor faz com a pessoa. Porém, algo iria mudar totalmente o rumo desta história...
           
“Já estou indo embora Beth”. – disse Helena pegando o casaco na saída.
            A noite estava fria e havia poucas pessoas na rua. Helena adentrou no bonde, seu meio de locomoção diário para casa, se sentou logo atrás de um senhor com um longo casaco preto que parecia segurar algo debaixo do braço. O senhor ao se levantar para descer, deixa um livro sobre o banco.
            “Ei moço, moço... Você esqueceu seu livro...” – disse Helena apanhando o livro e tentando chamar a atenção do senhor em vão.
            Helena se desapontou pelo ocorrido, porém resolveu levar o livro consigo para casa e tentar devolvê-lo a seu dono no dia seguinte. Chegando em casa, pôs o livro no criado-mudo ao lado de sua cama e foi tomar um banho. Quando foi se deitar, lembrou-se mais uma vez do cartão de Otávio, mas pôs-se logo a dormir querendo eliminar esses pensamentos.
Passado algum tempo, Helena, em sonho, se vê em um local lindo, com uma grama muito verde e uma brisa leve que a acalentava. Andando calmamente por este vale ela encontra-se com Otávio, mas desta vez não estava com raiva, muito pelo contrário, parecia que o conhecia de longa data, ao se aproximar dele, Helena depois de um longo abraço diz: “EU TE PERDÔO ..”. Ela acorda emocionada e olha o relógio, eram sete horas. Pensa: “Será algum sinal? Não... Deve ser coisa da minha cabeça.” Ainda comovida pelo sonho e com receio de deitar-se novamente, repara no livro ao seu lado no criado-mudo e resolve pegá-lo para ler.
Após uma folheada, para sua surpresa, um pedaço de papel sai de dentro do livro e cai em seu colo. Pegando-o, percebeu que era uma parte rasgada de uma folha de caderno bem surrada, tinha algo escrito à mão, um poema rascunhado em letras firmes, porém de uma grafia bem humilde, dizia o seguinte:

Perdoa enquanto é dia,
Perdoa a teu irmão.
Que em momento de euforia,
Magoou teu coração.

Segue os passos do Mestre,
Da doutrina do amor.
Vigia-te em prece,
E perdoa sem temor.

Perdoa a teu inimigo,
Mostre a ele a verdadeira luz.
Para que se torne fiel amigo,
Companheiro na seara de Jesus.
                                                                             
Certamente era um sinal. A mensagem parecia estar se dirigindo exatamente a ela. Sem dúvida alguma, Helena decide ir atrás de Otávio, perdoá-lo e dizer o que sente. “Mas será que ainda daria tempo?”, pensa. Rapidamente ela troca de roupa e apressa-se para a estação de trem.
           
- Enquanto esses fatos desenrolavam-se, eu estava ali na estação de trem da cidade... – continuou Otávio dirigindo-se a Tiago. - Pronto para embarcar, vendo os outros soldados se despedindo de suas famílias, suas mulheres e filhos, apenas pensando como seria bom ter alguém pra quem voltar. É claro que eu tinha minha família, mas eu queria algo mais...
“Quando que para a minha surpresa visualizo Helena ao longe. Parecia tentar encontrar alguém. Foi quando ela me vê e corre em minha direção, parando a alguns passos de mim. Eu apenas a olhei, não compreendia bem a situação, ela estava tão linda, num vestido longo rendado e um chapéu que lhe dava a aparência de uma donzela. Meu coração palpitava tanto que mal conseguia ficar de pé. Ela não parava de me olhar, seus olhos penetravam fundo na minha alma, como que se quisesse me dizer algo. E num ato repentino ela deu um sorriso largo e me abraçou. O que eu poderia pensar? O que eu poderia dizer? Não sabia como reagir, enquanto ela ainda me abraçava.”
           
“Me desculpe...” – disse Otávio pondo as mãos no rosto da moça e olhando em seus olhos. – “Foi tudo um mal entendido... Eu não pretendia te magoar...”
            Helena simplesmente abanou a cabeça e olhou para Otávio, suspirou e repetiu o que já tinha dito em seu sonho:
            “Não precisa dizer mais nada. Eu te perdôo...”
            Eles se olharam e quando parecia que iriam se beijar, Rogério chega de repente e diz:
            “Você veio se despedir de mim, maninha?” – disse Rogério alegre.
            “Maninha?” – perguntou surpreso Otávio.
           
- Maninha, vô? – perguntou surpreso Tiago.
            - Isso mesmo Tiago, na verdade a Helena era irmã do meu amigo Rogério, que naquela oportunidade, percebendo o meu interesse sincero, só queria que eu me aproximasse dela.
           
“Então vocês finalmente se acertaram?” – perguntou Rogério. – “Eu não aguentava mais... Toda dia quando ia ‘pro’ bar, pra relaxar um pouco, a Helena já vinha a minha mesa reclamar do Otávio...”
            “Mas você sabia de nós? Por que não me disse?” – perguntou Helena surpresa.
            “Digo o mesmo...” – disse Otávio quase que imediatamente depois de Helena.
            “Claro que eu sabia de vocês, era a Helena reclamando do Otávio pra aqui, o Otávio choramingando pelo quartel por ali... Já não havia tempo de vocês se entenderem.” – respondeu Rogério brincando.
           

- Depois de rirmos um pouco com os comentários de Rogério, chegou a hora de me despedir temporariamente da minha amada. – continuou Otávio se dirigindo para Tiago, que parecia bem entretido com a história. – Rogério foi na frente para organizar as malas e eu fiquei mais um pouco ali com Helena. Ela avistou um fotógrafo e foi logo o chamando. Depois de tirar esta foto que você segura Tiago, ela me disse:
           
“Quero que guarde esta lembrança minha, para que não se esqueça de que o meu amor será sempre seu...” – disse Helena emocionada.
           
- Beijando-me os lábios, ela se despediu de mim, deixando além da foto, estas palavras, que ressoam em meus ouvidos até hoje, quando me lembro de sua avó. – continuou Otávio comovido.
“Sua avó logo após a minha partida, terminou de ler aquele livro e começou a se dedicar e estudar cada vez mais ao que ele se tratava. Quando retornei, ela estava até trabalhando voluntariamente nas atividades de um grupo que freqüentava. E vivia falando sobre espíritos que ela via nessas reuniões. Por isso que disse que você me lembrava sua avó e tinha algo a lhe mostrar...”
            Neste momento, Otávio retira um livro de uma prateleira muito antiga encostada no canto da parede. Era um livro muito velhinho, certamente surrado pela frequente consulta e as várias horas de estudo debruçados sobre ele, mas ainda se encontrava pouco empoeirado, considerando a poeira que sobressaltava da prateleira.
            - Este livro, Tiago, foi o livro que mudou minha vida completamente... – afirmou Otávio. - Eu quero que você fique com ele. Faça bom proveito...
            Tiago retirou com muito cuidado o livro das mãos de seu avô, e na capa, em que ele ainda teve de limpar um pouco a poeira que restava, estava escrito de forma bastante legível: “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”.


CRIAÇÃO
                                                                       Michael Menezes Martins
                                                                       Márcio de Sousa Mateus Jr.
                                                                      
REVISÃO
                                                                       Nísia Anália
                                                                       Khal Rens Cândido


Link para download do capítulo:



Aê pessoal, finalmente o desenrolar desta história, e o fim desse suspense o/
Quem gostou do capitulo comenta [nem sei porque ainda peço T_T]  e vamo compartilhar meu povo, que daqui pra frente que a coisa vai começar a ficar boa mesmo o/
E como que quase viro um habito, fiquem com mais esta tirinha , desta  vez feita pelo nosso queridíssimo Michael



Até semana que vem com o Cap. 11 pra vcs o/ [e não, eu não trabalho no posto Ipiranga xD]

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