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Aonde eu parei mesmo? – perguntou Otávio.
- Você tinha acabado de passar na
prova pra contabilista do exército e ia viajar pra Natal... – respondeu ansioso
Tiago.
- É mesmo... Pois bem, continuando
com a história... Helena estava uma fera comigo, no dia seguinte ao mal
entendido...
“Aconteceu alguma coisa Helena?” –
perguntou Beth, uma colega de serviço de Helena no bar. “Com certeza tem homem
envolvido, num tem?”
“Eu não quero falar disso agora...”,
respondeu Helena tentando desviar do assunto.
“Tá bom... Não tá mais aqui quem
falou... Só que chegou pra você umas flores. Estão lá na dispensa.”
Helena surpresa foi até a dispensa
verificar, lá estava um buquê com orquídeas brancas muito perfumadas, ao lado
havia um bilhete que dizia o seguinte:
DESCULPE-ME, NÃO FOI MINHA INTENÇÃO.
ASS. OTÁVIO
Helena estava muito
magoada, e não era um simples pedido de desculpas e flores que a fariam perdoar
Otávio. Numa atitude de raiva, ela amassou o bilhete e jogou no lixo. E
passando por Beth novamente para pegar o avental para mais um dia de trabalho,
diz:
“Se você quiser pode ficar com as
flores...”
- Vish... A vovó era brava heim? – disse
Tiago assustado para o avô.
- Nem tanto quanto parece Tiago, é
que quando estamos com raiva, normalmente fazemos e falamos coisas impensadas,
é muito perigoso. Deve-se tomar muito cuidado para não magoarmos as pessoas que
amamos. Mas voltando para a história... Assim foi por uma semana, eu enviando
flores e mais flores com pedidos de desculpas para ela, e ela me ignorando. Até
que chegou o dia da minha viagem pra Natal, então eu escrevi uma última carta
pra ela.
“Chegou outro buquê pra você Helena...” –
disse Beth quando Helena entrou no trabalho. – “Esse seu admirador é
persistente heim?”
Helena nem deu importância para o
que Beth falava e foi mais uma vez “receber” o presente. Desta vez o bilhete
dizia:
SEI
QUE VOCÊ NÃO QUER ME VER E QUE ESTÁ ME IGNORANDO, MAS EU QUERIA DIZER QUE ESTOU
VIAJANDO AMANHÃ DE MANHÃ PARA A CIDADE DE NATAL.
EU GOSTO MUITO DE VOCÊ E QUERO QUE VOCÊ SEJA MUITO FELIZ.
ASS: OTÁVIO.
Helena desta vez
demorou um pouco a olhar a mensagem. Pensou pesarosamente: “Então ele está indo embora...”; mas,
logo se recobrou e pensou, enquanto amassava mais um bilhete: “Que vá... É um favor que ele me faz...”.
- Putz! A vovó “tava” muito “grilada” com o
senhor, mesmo... – disse Tiago surpreso novamente.
- Sua avó foi uma pessoa muito
amável, mas naquela época conservava um ódio muito grande pelo mínimo descontentamento.
Pra você ver meu filho, o que o rancor faz com a pessoa. Porém, algo iria mudar
totalmente o rumo desta história...
“Já estou indo embora Beth”. – disse Helena
pegando o casaco na saída.
A noite estava fria e havia poucas
pessoas na rua. Helena adentrou no bonde, seu meio de locomoção diário para
casa, se sentou logo atrás de um senhor com um longo casaco preto que parecia
segurar algo debaixo do braço. O senhor ao se levantar para descer, deixa um
livro sobre o banco.
“Ei moço, moço... Você esqueceu seu
livro...” – disse Helena apanhando o livro e tentando chamar a atenção do
senhor em vão.
Helena se desapontou pelo ocorrido, porém
resolveu levar o livro consigo para casa e tentar devolvê-lo a seu dono no dia
seguinte. Chegando em casa, pôs o livro no criado-mudo ao lado de sua cama e
foi tomar um banho. Quando foi se deitar, lembrou-se mais uma vez do cartão de Otávio,
mas pôs-se logo a dormir querendo eliminar esses pensamentos.
Passado algum tempo, Helena, em sonho, se vê
em um local lindo, com uma grama muito verde e uma brisa leve que a acalentava.
Andando calmamente por este vale ela encontra-se com Otávio, mas desta vez não
estava com raiva, muito pelo contrário, parecia que o conhecia de longa data,
ao se aproximar dele, Helena depois de um longo abraço diz: “EU TE PERDÔO ..”. Ela
acorda emocionada e olha o relógio, eram sete horas. Pensa: “Será algum sinal? Não...
Deve ser coisa da minha cabeça.” Ainda comovida pelo sonho e com receio de
deitar-se novamente, repara no livro ao seu lado no criado-mudo e resolve
pegá-lo para ler.
Após uma folheada, para sua surpresa, um
pedaço de papel sai de dentro do livro e cai em seu colo. Pegando-o, percebeu
que era uma parte rasgada de uma folha de caderno bem surrada, tinha algo
escrito à mão, um poema rascunhado em letras firmes, porém de uma grafia bem
humilde, dizia o seguinte:
Perdoa
enquanto é dia,
Perdoa
a teu irmão.
Que
em momento de euforia,
Magoou
teu coração.
Segue
os passos do Mestre,
Da
doutrina do amor.
Vigia-te
em prece,
E
perdoa sem temor.
Perdoa
a teu inimigo,
Mostre
a ele a verdadeira luz.
Para
que se torne fiel amigo,
Companheiro
na seara de Jesus.
Certamente era um sinal. A mensagem parecia
estar se dirigindo exatamente a ela. Sem dúvida alguma, Helena decide ir atrás
de Otávio, perdoá-lo e dizer o que sente. “Mas será que ainda daria tempo?”,
pensa. Rapidamente ela troca de roupa e apressa-se para a estação de trem.
- Enquanto esses fatos desenrolavam-se, eu
estava ali na estação de trem da cidade... – continuou Otávio dirigindo-se a
Tiago. - Pronto para embarcar, vendo os outros soldados se despedindo de suas
famílias, suas mulheres e filhos, apenas pensando como seria bom ter alguém pra
quem voltar. É claro que eu tinha minha família, mas eu queria algo mais...
“Quando que para a minha surpresa visualizo
Helena ao longe. Parecia tentar encontrar alguém. Foi quando ela me vê e corre
em minha direção, parando a alguns passos de mim. Eu apenas a olhei, não
compreendia bem a situação, ela estava tão linda, num vestido longo rendado e
um chapéu que lhe dava a aparência de uma donzela. Meu coração palpitava tanto
que mal conseguia ficar de pé. Ela não parava de me olhar, seus olhos
penetravam fundo na minha alma, como que se quisesse me dizer algo. E num ato
repentino ela deu um sorriso largo e me abraçou. O que eu poderia pensar? O que
eu poderia dizer? Não sabia como reagir, enquanto ela ainda me abraçava.”
“Me desculpe...” – disse Otávio pondo as
mãos no rosto da moça e olhando em seus olhos. – “Foi tudo um mal entendido...
Eu não pretendia te magoar...”
Helena simplesmente abanou a cabeça
e olhou para Otávio, suspirou e repetiu o que já tinha dito em seu sonho:
“Não precisa dizer mais nada. Eu te
perdôo...”
Eles se olharam e quando parecia que
iriam se beijar, Rogério chega de repente e diz:
“Você veio se despedir de mim,
maninha?” – disse Rogério alegre.
“Maninha?” – perguntou surpreso
Otávio.
- Maninha, vô? – perguntou surpreso Tiago.
- Isso mesmo Tiago, na verdade a
Helena era irmã do meu amigo Rogério, que naquela oportunidade, percebendo o
meu interesse sincero, só queria que eu me aproximasse dela.
“Então vocês finalmente se acertaram?” –
perguntou Rogério. – “Eu não aguentava mais... Toda dia quando ia ‘pro’ bar,
pra relaxar um pouco, a Helena já vinha a minha mesa reclamar do Otávio...”
“Mas você sabia de nós? Por que não
me disse?” – perguntou Helena surpresa.
“Digo o mesmo...” – disse Otávio
quase que imediatamente depois de Helena.
“Claro que eu sabia de vocês, era a
Helena reclamando do Otávio pra aqui, o Otávio choramingando pelo quartel por
ali... Já não havia tempo de vocês se entenderem.” – respondeu Rogério
brincando.
- Depois de rirmos um pouco com os
comentários de Rogério, chegou a hora de me despedir temporariamente da minha
amada. – continuou Otávio se dirigindo para Tiago, que parecia bem entretido
com a história. – Rogério foi na frente para organizar as malas e eu fiquei
mais um pouco ali com Helena. Ela avistou um fotógrafo e foi logo o chamando.
Depois de tirar esta foto que você segura Tiago, ela me disse:
“Quero que guarde esta lembrança minha,
para que não se esqueça de que o meu amor será sempre seu...” – disse Helena
emocionada.
- Beijando-me os lábios, ela se despediu de
mim, deixando além da foto, estas palavras, que ressoam em meus ouvidos até
hoje, quando me lembro de sua avó. – continuou Otávio comovido.
“Sua avó logo após a minha partida, terminou
de ler aquele livro e começou a se dedicar e estudar cada vez mais ao que ele
se tratava. Quando retornei, ela estava até trabalhando voluntariamente nas
atividades de um grupo que freqüentava. E vivia falando sobre espíritos que ela
via nessas reuniões. Por isso que disse que você me lembrava sua avó e tinha
algo a lhe mostrar...”
Neste momento, Otávio retira um
livro de uma prateleira muito antiga encostada no canto da parede. Era um livro
muito velhinho, certamente surrado pela frequente consulta e as várias horas de
estudo debruçados sobre ele, mas ainda se encontrava pouco empoeirado,
considerando a poeira que sobressaltava da prateleira.
- Este livro, Tiago, foi o livro que
mudou minha vida completamente... – afirmou Otávio. - Eu quero que você fique
com ele. Faça bom proveito...
Tiago retirou com muito cuidado o
livro das mãos de seu avô, e na capa, em que ele ainda teve de limpar um pouco
a poeira que restava, estava escrito de forma bastante legível: “O LIVRO DOS
ESPÍRITOS”.
CRIAÇÃO
Michael
Menezes Martins
Márcio
de Sousa Mateus Jr.
REVISÃO
Nísia
Anália
Khal
Rens Cândido
Link para download do capítulo:
Aê pessoal, finalmente o desenrolar desta história, e o fim desse suspense o/
Quem gostou do capitulo comenta [nem sei porque ainda peço T_T] e vamo compartilhar meu povo, que daqui pra frente que a coisa vai começar a ficar boa mesmo o/
E como que quase viro um habito, fiquem com mais esta tirinha , desta vez feita pelo nosso queridíssimo Michael
Até semana que vem com o Cap. 11 pra vcs o/ [e não, eu não trabalho no posto Ipiranga xD]
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