sexta-feira, 26 de abril de 2013

O Jovem Espírita - Capítulo IX - "Memórias"


              - Como você já sabe Tiago, eu pertenci ao exército brasileiro, fui um oficial de suma importância durante a segunda guerra mundial... – disse Otávio inspiradamente.
            Tiago balançava a cabeça em atitude de entendimento, não querendo contrariar o avô, pois sabia que ele havia sido apenas um contador, não desmerecendo sua posição.
            - Pois então... – continuou Otávio. – Eu me alistei em 1941, uma época muito complicada da história do Brasil, em meio à ditadura e de uma guerra que acabara de iniciar. A Segunda Guerra Mundial só foi realmente atingir o Brasil no começo de 1942, quando alguns submarinos alemães e italianos iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras na costa do país, pois diziam que o Brasil estava tendo uma atitude suspeita, afirmando que estávamos apoiando os Estados Unidos.
            - Tá bom vô... Deixa de aula de história e me diz logo como foi que o senhor conheceu a vovó! – disse Tiago
            - Tá bom, tá bom... Continuando a história...Nessa época, eu tinha acabado de alistar em uma cidade próxima de onde vivia com a minha família, pois na cidadezinha que morava não possuía serviço de alistamento militar. Já que passávamos por uma época de ditadura e também pelo temor crescente da guerra, os oficiais não recusavam praticamente ninguém nas chamadas. E ali estava eu, jovem, na cidade grande, estava até me habituando à vida como soldado:todos os treinamentos de guerra, as rotinas militares, e outras coisas, que só quem já prestou o exército sabe bem como é... Porém, eu não me sentia bem. Uma coisa é você participar de um treinamento de tiro, simular situações em que você tem que “tirar” a vida de uma pessoa antes que ela “tire” a sua; outra bem diferente, é você estar em campo e ter que realmente matar sem nem saber realmente o motivo... É meu filho... Eu passei por um momento muito complicado naquele tempo, eu não sabia o que fazer, tinha um medo muito grande de morrer e mais ainda de ter que matar alguém...
            Tiago estava impressionado pelo o que o avô falava, sempre associara o medo de seu avô a algum tipo de covardia, mas nunca tinha pensado em ter raízes tão profundas e sensíveis. Contudo, Tiago mal esperava para ouvir a inserção de sua avó na história e teve o impulso de perguntar.
            - E a vovó? Onde é que ela entra nessa história? – perguntou Tiago impacientemente.
            - Calma meu jovem... Já estamos chegando lá... – disse Otávio continuando. – Pois bem, passou-se um ano desde o meu alistamento, chegando assim ao dia do meu aniversário de 19 anos. Meus colegas de dormitório do exército resolveram comemorar em um bar que ficava próximo ao quartel. Eu não estava muito interessado, mas fui quase que arrastado. Chegando lá, escolhemos uma mesa e os rapazes se organizaram para pedir algumas bebidas. E eu me lembro como se fosse hoje, Tiago, lá estava ela, Helena... Uma garçonete linda, o sonho de qualquer rapaz, seus cabelos cacheados e olhos penetrantes cor de mel,me hipnotizaram desde a primeira vez que a vi.
Ela veio em minha direção, como ela era linda...Na minha mente esse momento ocorreu quase que em câmera lenta.
            - O que vocês vão pedir? – perguntou gentilmente Helena.
            - Hoje é a noite do meu garoto, vou deixa-lo pedir! Peça Otávio... – disse Rogério, que era como meu padrinho no quartel. Protegia-me das brincadeiras do pessoal, ajudava-me nas tarefas quando podia e ensinava sempre o que sabia para mim. Possuía uma personalidade forte e imprevisível, e tinha um “pavio muito curto”.
            - Naquele momento travei. Queria dizer algo, mas não conseguia, ou pelo menos não encontrava palavras certas para falar. Por esta razão fiquei a olhar “abobadamente” Helena por alguns instantes.
            - Que foi Otávio? Nunca viu mulher não? – disse outro colega sarcasticamente.
            Helena se sentiu um pouco constrangida com a situação e disse:
            - Volto quando vocês decidirem... – disse envergonhada Helena se dirigindo para outra mesa, enquanto os colegas de Otávio caíam na gargalhada.
            Tiago que estava a ouvir atenciosamente o avô também deu um sorriso abafado, e pensou: “Já sei de onde herdei a mau jeito com as mulheres...”.
            - É Tiago... Foi o segundo momento mais humilhante da minha vida. Mas pra minha sorte aquela história de amor estava apenas começando... Bom, continuando... Os rapazes ficaram caçoando de mim, dizendo que estava babando por aquela mulher, que precisava ser mais ativo e chamá-la para um encontro. Eu realmente queria fazer isso, mas estava com muito medo de uma rejeição imediata, e também, depois do acontecido, ela não retornou até a nossa mesa. Fiquei a aguardar um momento oportuno para falar com ela, observando-a de longe, ia cada vez mais me apaixonando.
- Reparei que quando ela atendia uma mesa ou recebia no caixa, tinha a mania de sempre passar o cabelo para detrás das orelhas e dar um leve sorriso torto que contagiava a todos, principalmente a mim. Foi quando em um momento fui até o banheiro e no caminho dei de cara com ela e...
            - E o que? – disse Tiago em desespero.
            - E travei novamente... – continuou Otávio depois de pequena pausa. – Não pude dizer nenhuma palavra, ela era tão linda e foi tudo tão rápido... Ela me olhou espantada e saiu. Depois disso fiquei tão envergonhado que fui para o dormitório sem nem ao menos avisar meus colegas. No outro dia o pessoal veio logo tirar satisfações comigo, e eu muito sem graça, fui me explicando, é claro que não contei o que aconteceu, apenas dei uma desculpa qualquer. Eles entenderam e mesmo resmungando, foram para os seus outros afazeres, somente Rogério ficou para trás.
            - Eu sei o que aconteceu Otávio... – disse Rogério calmamente. – Eu vi toda a cena... Mas não foi intencional, eu só estava com vontade de ir ao banheiro também.
            - E vai rir de mim de novo? – retrucou Otávio.
            - Claro que não... Somos amigos não é? Eu quero é te ajudar... Sabe, certa vez li um livro muito bom sobre relacionamentos que talvez te ajude... Não me recordo o nome, mas é de capa vermelha com umas escritas em verde...
            - E como que eu acho esse livro?
            - Na biblioteca deve ter...
            - Então eu vou aqui à biblioteca do quartel e...
            - Não... – interrompeu Rogério. – Você não vai encontrar aqui, tenho certeza... Talvez você ache na biblioteca lá da Praça da Liberdade...
            - Mas fica muito longe, talvez tenha alguma mais per...
            - Não... – interrompeu novamente. – Só tem lá mesmo...
            -Estranhei a insistência de Rogério, mas resolvi ir até esta tal biblioteca afinal. – continuou Otávio. – Era uma biblioteca muito grande, com estantes de livros que iam até o teto. Em meio a tantas opções, procurei em vão durante certo tempo o livro que Rogério me indicara. Foi quando entrei em um corredor e quem estava lá?
            - O Roberto Carlos... – brincou Tiago.
            - Quem? – perguntou Otávio sem saber ao certo o que Tiago dissera.
            - Nada vô... Continua...
            - Tudo bem... Quem estava no corredor era a Helena!
            Tiago já esperava por essa...
            - Quando ela me viu, simplesmente fugiu antes de eu dizer nem sequer uma palavra. Fiquei a pensar: “Será que ela acha que eu sou algum lunático ou pervertido querendo se aproveitar dela?”. Afinal ela não sabia que eu só estava ali por acaso. Aí que eu fui desconfiar o motivo da insistência de Rogério e pensei: “Já sei... Isso deve ser mais alguma brincadeira dos rapazes... Eles devem ter contratado a garota pra me seduzir ou sei lá... Mas isso não vai ficar assim...”. E lá fui eu tirar satisfações com a Helena, lá estava ela, linda atrás do balcão de empréstimos.
            - Eu sei bem o que está acontecendo aqui... – eu disse aos berros.
            - Silêncio... Não vê que estamos numa biblioteca? – repreendeu Helena.
            - Foram eles que te contrataram, não foi? Podem sair gente... Eu sei que vocês estão escondidos em algum lugar... Eu já descobri tudo...
            - Como assim? – interpelou Helena sem entender.
            - Meus colegas te contrataram para fazer uma pegadinha comigo, não foi?
            - Não... Eu... – respondeu Helena confusa.
            - Pode parar de teatrinho...Eu já sei de tudo... – eu disse muito certo de minhas palavras.
            - Moço, eu não sei do que você está falando... – disse Helena assustada, quase aos prantos. - Você está me envergonhando!
            - É claro que só pode ser brincadeira, por que outro motivo você fugiria de mim daquele jeito, em?
            - Não sei, talvez por que eu tenha gostado de você...
            - A vovó disse isso mesmo? – perguntou Tiago.
            - Disse Tiago... Esse foi o primeiro momento mais humilhante da minha vida. Depois disto, é claro que ela não disse mais nada, pois nem precisava também, pediu licença do seu gerente e se retirou do lugar aos prantos. Eu travei mais uma vez. Mas o que eu poderia dizer? Apenas sabia que tinha feito tudo errado. A mulher que eu amava estava saindo por aquela porta e eu nem ao menos podia lhe pedir desculpas.
- E as coisas só pioraram no dia seguinte. Uma carta vinda de Natal, relatava que o Brasil havia sido atacado e o presidente cedeu às pressões norte-americanas,desta forma a partir daquela data o Brasil estava oficialmente em guerra contra as forças nazistas e fascistas, e acrescentava pedindo reforços para os portos da cidade e outros soldados para serem enviados a Itália em missão especial. Minha apreensão foi imensa, tinha muito medo de ir a campo de batalha. Rogério veio a mim naquela manhã e disse que haveria uma prova para ingressar como contabilista do exército; e sabendo que eu, mesmo vindo de origem simples, nascido e criado numa cidade pequena, sempre fui muito bom em “fazer contas”, poderia muito bem ter uma chance.
- E assim aconteceu, consegui passar na prova, mas com um porém, ainda tive que viajar para Natal.
            - Mas e a vovó? – perguntou Tiago aflito.
            - Pois é Tiago, agora é que realmente começa a grande história de amor...



CRIAÇÃO
                                                                       Michael Menezes Martins
                                                                       Márcio de Sousa Mateus Jr.
                                                                      
REVISÃO
                                                                       Nísia Anália
                                                                       Khal Rens Cândido

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E aí pessoal gostaram do capitulo? se sim não fiquem tristes que semana que vêm tem mais :D
e bem, sei que ja passou um pocco da hora, mais fiquem com essa tirinha, que tenho certeza que foi a reação de muita gente com o capítulo 7 xD


Até mais pessoal o/


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