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Como você já sabe Tiago, eu pertenci ao exército brasileiro, fui um oficial de
suma importância durante a segunda guerra mundial... – disse Otávio
inspiradamente.
Tiago balançava a cabeça em atitude
de entendimento, não querendo contrariar o avô, pois sabia que ele havia sido
apenas um contador, não desmerecendo sua posição.
- Pois então... – continuou Otávio.
– Eu me alistei em 1941, uma época muito complicada da história do Brasil, em
meio à ditadura e de uma guerra que acabara de iniciar. A Segunda Guerra Mundial
só foi realmente atingir o Brasil no começo de 1942, quando alguns submarinos alemães
e italianos iniciaram o torpedeamento de embarcações brasileiras na costa do
país, pois diziam que o Brasil estava tendo uma atitude suspeita, afirmando que
estávamos apoiando os Estados Unidos.
- Tá bom vô... Deixa de aula de
história e me diz logo como foi que o senhor conheceu a vovó! – disse Tiago
- Tá bom, tá bom... Continuando a
história...Nessa época, eu tinha acabado de alistar em uma cidade próxima de
onde vivia com a minha família, pois na cidadezinha que morava não possuía
serviço de alistamento militar. Já que passávamos por uma época de ditadura e
também pelo temor crescente da guerra, os oficiais não recusavam praticamente
ninguém nas chamadas. E ali estava eu, jovem, na cidade grande, estava até me habituando à
vida como soldado:todos os treinamentos de guerra, as rotinas militares, e
outras coisas, que só quem já prestou o exército sabe bem como é... Porém, eu
não me sentia bem. Uma coisa é você participar de um treinamento de tiro,
simular situações em que você tem que “tirar” a vida de uma pessoa antes que
ela “tire” a sua; outra bem diferente, é você estar em campo e ter que
realmente matar sem nem saber realmente o motivo... É meu filho... Eu passei
por um momento muito complicado naquele tempo, eu não sabia o que fazer, tinha
um medo muito grande de morrer e mais ainda de ter que matar alguém...
Tiago estava impressionado pelo o
que o avô falava, sempre associara o medo de seu avô a algum tipo de covardia,
mas nunca tinha pensado em ter raízes tão profundas e sensíveis. Contudo, Tiago
mal esperava para ouvir a inserção de sua avó na história e teve o impulso de
perguntar.
- E a vovó? Onde é que ela entra
nessa história? – perguntou Tiago impacientemente.
- Calma meu jovem... Já estamos
chegando lá... – disse Otávio continuando. – Pois bem, passou-se um ano desde o
meu alistamento, chegando assim ao dia do meu aniversário de 19 anos. Meus
colegas de dormitório do exército resolveram comemorar em um bar que ficava
próximo ao quartel. Eu não estava muito interessado, mas fui quase que
arrastado. Chegando lá, escolhemos uma mesa e os rapazes se organizaram para
pedir algumas bebidas. E eu me lembro como se fosse hoje, Tiago, lá estava ela,
Helena... Uma garçonete linda, o sonho de qualquer rapaz, seus cabelos
cacheados e olhos penetrantes cor de mel,me hipnotizaram desde a primeira vez
que a vi.
Ela veio em minha direção, como ela era
linda...Na minha mente esse momento ocorreu quase que em câmera lenta.
- O que vocês vão pedir? – perguntou
gentilmente Helena.
- Hoje é a noite do meu garoto, vou
deixa-lo pedir! Peça Otávio... – disse Rogério, que era como meu padrinho no
quartel. Protegia-me das brincadeiras do pessoal, ajudava-me nas tarefas quando
podia e ensinava sempre o que sabia para mim. Possuía uma personalidade forte e
imprevisível, e tinha um “pavio muito curto”.
- Naquele momento travei. Queria dizer
algo, mas não conseguia, ou pelo menos não encontrava palavras certas para falar.
Por esta razão fiquei a olhar “abobadamente” Helena por alguns instantes.
- Que foi Otávio? Nunca viu mulher
não? – disse outro colega sarcasticamente.
Helena se sentiu um pouco
constrangida com a situação e disse:
- Volto quando vocês decidirem... –
disse envergonhada Helena se dirigindo para outra mesa, enquanto os colegas de
Otávio caíam na gargalhada.
Tiago que estava a ouvir
atenciosamente o avô também deu um sorriso abafado, e pensou: “Já sei de onde
herdei a mau jeito com as mulheres...”.
- É Tiago... Foi o segundo momento
mais humilhante da minha vida. Mas pra minha sorte aquela história de amor
estava apenas começando... Bom, continuando... Os rapazes ficaram caçoando de
mim, dizendo que estava babando por aquela mulher, que precisava ser mais ativo
e chamá-la para um encontro. Eu realmente queria fazer isso, mas estava com
muito medo de uma rejeição imediata, e também, depois do acontecido, ela não
retornou até a nossa mesa. Fiquei a aguardar um momento oportuno para falar com
ela, observando-a de longe, ia cada vez mais me apaixonando.
- Reparei que quando ela atendia uma mesa
ou recebia no caixa, tinha a mania de sempre passar o cabelo para detrás das
orelhas e dar um leve sorriso torto que contagiava a todos, principalmente a
mim. Foi quando em um momento fui até o banheiro e no caminho dei de cara com
ela e...
- E o que? – disse Tiago em
desespero.
- E travei novamente... – continuou Otávio
depois de pequena pausa. – Não pude dizer nenhuma palavra, ela era tão linda e
foi tudo tão rápido... Ela me olhou espantada e saiu. Depois disso fiquei tão
envergonhado que fui para o dormitório sem nem ao menos avisar meus colegas. No
outro dia o pessoal veio logo tirar satisfações comigo, e eu muito sem graça,
fui me explicando, é claro que não contei o que aconteceu, apenas dei uma
desculpa qualquer. Eles entenderam e mesmo resmungando, foram para os seus
outros afazeres, somente Rogério ficou para trás.
- Eu sei o que aconteceu Otávio... –
disse Rogério calmamente. – Eu vi toda a cena... Mas não foi intencional, eu só
estava com vontade de ir ao banheiro também.
- E vai rir de mim de novo? –
retrucou Otávio.
- Claro que não... Somos amigos não
é? Eu quero é te ajudar... Sabe, certa vez li um livro muito bom sobre
relacionamentos que talvez te ajude... Não me recordo o nome, mas é de capa
vermelha com umas escritas em verde...
- E como que eu acho esse livro?
- Na biblioteca deve ter...
- Então eu vou aqui à biblioteca do
quartel e...
- Não... – interrompeu Rogério. –
Você não vai encontrar aqui, tenho certeza... Talvez você ache na biblioteca lá
da Praça da Liberdade...
- Mas fica muito longe, talvez tenha
alguma mais per...
- Não... – interrompeu novamente. –
Só tem lá mesmo...
-Estranhei a insistência de Rogério,
mas resolvi ir até esta tal biblioteca afinal. – continuou Otávio. – Era uma
biblioteca muito grande, com estantes de livros que iam até o teto. Em meio a
tantas opções, procurei em vão durante certo tempo o livro que Rogério me
indicara. Foi quando entrei em um corredor e quem estava lá?
- O Roberto Carlos... – brincou
Tiago.
- Quem? – perguntou Otávio sem saber
ao certo o que Tiago dissera.
- Nada vô... Continua...
- Tudo bem... Quem estava no
corredor era a Helena!
Tiago já esperava por essa...
- Quando ela me viu, simplesmente
fugiu antes de eu dizer nem sequer uma palavra. Fiquei a pensar: “Será que ela acha que eu sou algum lunático
ou pervertido querendo se aproveitar dela?”. Afinal ela não sabia que eu só
estava ali por acaso. Aí que eu fui desconfiar o motivo da insistência de
Rogério e pensei: “Já sei... Isso deve
ser mais alguma brincadeira dos rapazes... Eles devem ter contratado a garota
pra me seduzir ou sei lá... Mas isso não vai ficar assim...”. E lá fui eu
tirar satisfações com a Helena, lá estava ela, linda atrás do balcão de
empréstimos.
- Eu sei bem o que está acontecendo
aqui... – eu disse aos berros.
- Silêncio... Não vê que estamos
numa biblioteca? – repreendeu Helena.
- Foram eles que te contrataram, não
foi? Podem sair gente... Eu sei que vocês estão escondidos em algum lugar... Eu
já descobri tudo...
- Como assim? – interpelou Helena
sem entender.
- Meus colegas te contrataram para
fazer uma pegadinha comigo, não foi?
- Não... Eu... – respondeu Helena
confusa.
- Pode parar de teatrinho...Eu já
sei de tudo... – eu disse muito certo de minhas palavras.
- Moço, eu não sei do que você está
falando... – disse Helena assustada, quase aos prantos. - Você está me
envergonhando!
- É claro que só pode ser
brincadeira, por que outro motivo você fugiria de mim daquele jeito, em?
- Não sei, talvez por que eu tenha gostado
de você...
- A vovó disse isso mesmo? –
perguntou Tiago.
- Disse Tiago... Esse foi o primeiro
momento mais humilhante da minha vida. Depois disto, é claro que ela não disse
mais nada, pois nem precisava também, pediu licença do seu gerente e se retirou
do lugar aos prantos. Eu travei mais uma vez. Mas o que eu poderia dizer?
Apenas sabia que tinha feito tudo errado. A mulher que eu amava estava saindo
por aquela porta e eu nem ao menos podia lhe pedir desculpas.
- E as coisas só pioraram no dia seguinte.
Uma carta vinda de Natal, relatava que o Brasil havia sido atacado e o
presidente cedeu às pressões norte-americanas,desta forma a partir daquela data
o Brasil estava oficialmente em guerra contra as forças nazistas e fascistas, e
acrescentava pedindo reforços para os portos da cidade e outros soldados para
serem enviados a Itália em missão especial. Minha apreensão foi imensa, tinha
muito medo de ir a campo de batalha. Rogério veio a mim naquela manhã e disse
que haveria uma prova para ingressar como contabilista do exército; e sabendo
que eu, mesmo vindo de origem simples, nascido e criado numa cidade pequena,
sempre fui muito bom em “fazer contas”, poderia muito bem ter uma chance.
- Mas e a vovó? – perguntou Tiago
aflito.
- Pois é Tiago, agora é que
realmente começa a grande história de amor...
CRIAÇÃO
Michael
Menezes Martins
Márcio
de Sousa Mateus Jr.
REVISÃO
Nísia
Anália
Khal Rens
Cândido
Link para download:
E aí pessoal gostaram do capitulo? se sim não fiquem tristes que semana que vêm tem mais :D
e bem, sei que ja passou um pocco da hora, mais fiquem com essa tirinha, que tenho certeza que foi a reação de muita gente com o capítulo 7 xD
Até mais pessoal o/
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