Definitivamente Tiago estava vendo
fantasmas. Já eram quatro pelas suas contas. Após um final de semana em
repouso, voltou mais uma vez para a escola, desta vez ainda mais temeroso.
Decidiu por ir à pé, tinha medo de atropelar mais alguém ou alguma coisa, e
também, seria uma “ótima” caminhada. A cada passo que dava, olhava para todas
as direções, à procura do menor movimento suspeito. Saíra bem cedo de casa para
garantir que não iria se atrasar, mas a verdade era que persistira em suas
noites aquele probleminha para dormir.
Tudo
ocorrera normal a caminho da escola, o primeiro a se encontrar com ele foi Zaf.
-
Fala ae Tiago... Como foi a prova? – perguntou Zaf bastante interessado.
Tiago
encarou o amigo e pensou se poderia compartilhar com ele o que havia ocorrido.
Lembrando que Zaf já o tinha ridicularizado noutro dia pelo mesmo motivo,
decidiu disfarçar:
-
Ah cara... Nem sei! – respondeu malandramente Tiago.
Os
dois se entreolharam e encaminharam-se para a sala. No caminho, próximo aos
bebedouros, passaram por Izabella que saía do banheiro feminino. Izabella era a
garota mais bonita do colégio, todos os garotos à admiravam, inclusive Tiago e
Zaf. Seu longo cabelo negro muito liso lhe caia pelas costas, e seus olhos eram
de um azul acinzentado como o final de uma tempestade. Era uma típica
“patricinha colegial"; possivelmente seria esta a razão pela qual era
prepotente, se considerando superior a tudo e a todos.
Uma
curiosidade era que Tiago se apaixonara por Izabella desde a primeira vez que a
viu, na quarta série do ensino fundamental, fazendo com que Tiago desenvolvesse
algo um pouco além da simples atração física por ela, apaixonara-se também pelo
que ele acreditava ser a mulher de sua vida.
-
Olha se não são o Tico e o Teco! – disse em tom sarcástico Izabella. – Ah não,
você é o “poneizinho”, né? – deliberou apontando para Tiago, rindo de sua própria
provocação.
Zaf
deu um sorriso abafado, disfarçando para que seu amigo não percebesse, mas
Tiago nem se importava com os insultos, ao menos ela se lembrara de seu
apelido. Neste momento Tiago avistou um vulto passar por detrás da menina e
entrar no banheiro feminino. O mesmo arrepio da noite anterior lhe veio à nuca.
Sem perceber, Tiago saiu correndo para o banheiro masculino.
-
Nossa... não sabe nem brincar bebezão...
– resmungou Izabella, dando as costas para Zaf.
Zaf
foi logo atrás de seu amigo. Chegando ao banheiro, encontrou Tiago trancado em
uma das cabines.
-
Ei cara, você tá bem? –Zaf perguntou preocupado -Tá passando mal ou algo
assim? Se quiser eu chamo a enfermei...
-
Não, eu estou bem! - interrompeu Tiago - É só que, eu pensei ter visto alguma
coisa passar atrás da Izabella...
-
Sim eu também vi - disse Zaf em tom despreocupado.
-
Ahn? Você também viu!? - disse Tiago assustado.
-
Claro, a Ângela do primeiro ano entrando no banheiro. O que tem de mais?
-
Tem certeza que foi só isso? - disse Tiago agora confuso.
-
Sim, porque não teria? Cara, você tá bem mesmo? Não me diga que é pela história
do diretor de novo? Eu já te disse que aquilo é só uma lenda, e que nada
daquilo é re...
-
Não, não é isso - interrompeu Tiago novamente - É só que...
-É
só que o quê?
-
Nada... esquece... – respondeu Tiago saindo da cabine, encaminhando-se a porta.
Zaf
o seguiu sem entender muita coisa. Tiago parecia agora mais desconfiado ainda,
olhava para todos os lados, como se estivesse procurando algo. Zaf apenas o
observava.
Ao
chegar a sala de aula a srta. Denise logo foi chamando Tiago à sua mesa.
-
O que aconteceu Tiago? Você foi embora e nem me disse nada... – argumentou em
voz baixa com Tiago.
Tiago
certamente não iria lhe contar o que verdadeiramente havia ocorrido, decidiu
inventar alguma desculpa, porém nenhuma lhe vinha à mente.
-
Sabe o que é professora... Minha mãe me ligou durante a prova e me disse para
ir pra casa que era um assunto urgente...
-
E que assunto seria esse? – perguntou desconfiada a professora.
Tiago
parou olhando a professora. Forçava sua mente a arquitetar um bom pretexto que
o livraria daquela situação, mas era péssimo com mentiras, e antes que pudesse
pensar em alguma coisa, Zaf disse por trás dele:
-
Cara, sinto muito pelo seu avô - disse pondo a mão em seu ombro - Que susto foi
aquele semana passada, em? Ele tá melhor?
Tiago
ficou perdido alguns instantes, mas logo percebeu o que Zaf estava fazendo.
-
Sim, ele está bem melhor, obrigado, mas foi uma correria, indo pro hospital com
ele, mas graças a Deus nós chegamos à tempo, e não era nada grave.
-
Entendi... Bem, então beleza. - disse Zaf com um pequeno sorriso no rosto ao se
dirigir para sua mesa. Enquanto isso a professora olhava para Tiago com ar de
espanto.
-
Bom, você poderia ter me avisado que era um problema de saúde... E já que é
assim, vou te dar mais uma chance de refazer a prova, mas esta será a última, certo?
Se você perder essa, eu não vou ter escolha senão ter que zerar a sua nota,
entendido?
-
Sim professora, obrigado, dessa vez vai sair tudo bem - disse Tiago, num tom
não muito firme, pensando que talvez tivesse que vir a escola a noite
novamente.
-
Bom, está certo então, agora vá pro seu lugar!
Tiago
retornou a sua mesa, tentando parecer calmo para a professora não desconfiar de
nada. Deve ter sido bastante convincente, pois assim que Tiago se sentou, a
professora começou a aula.
Tudo
decorreu como de costume, com Zaf discursando sobre qualquer assunto que a
professora Denise mencionava. Mas Tiago
estava diferente, parecia distante. Certamente estaria preocupado com a
situação em que se encontrava. Pensamentos angustiosos lhe vinham à mente, às
vezes de raiva pelos acontecimentos recentes, dos fantasmas e sonhos
esquisitos, que estavam atrapalhando a sua vida; outras vezes, tinha medo do
desapontamento materno, da incompreensão dos amigos, lembrando que não tinha
ainda desabafado nem com sua mãe nem com o avô.
Um turbilhão de informações lhe povoava o
interior, fazendo então que parecesse hipnotizado. Juliana percebeu o estado de
Tiago, e parecia bem preocupada com o amigo, tentou buscar explicações com Zaf,
porém ele estava muito ocupado discutindo com a professora, sobre “porque os
autores literários da antiguidade davam tamanha importância a descrever figuras
religiosas”. Assim, Juliana não quis interromper Zaf neste momento, o que a
deixou inquieta.
Passado
certo tempo, Tiago foi recobrando os sentidos, até que pediu a autorização da
professora para ir ao banheiro; que lhe autorizou sem demora.
No
caminho viu uma garotinha. Ela devia ter uns onze anos e aparentava ser novata
na escola. Mal sabia ela que estava indo beber água no que os veteranos
chamavam de “o bebedouro tsunami”, pois quem utilizava aquele bebedouro se
molhava todo, a água saía num jato muito forte e, literalmente, “dava um banho”
na pessoa.
Foi
quando Tiago viu um homem que parecia o diretor, aquele mesmo, o fantasma da
outra noite. Enquanto a menina caminhava para o infortúnio, o homem a
acompanhava, e como que se quisesse impedi-la, aproximou-se da menina e, pelo
que se observou, aparentou sussurrar alguma coisa em seu ouvido. Foi quando a
menina parou, e como que se tivesse desistido de ir por aquele caminho, foi
saciar-se no bebedouro do outro lado do pátio, o senhor se sentiu satisfeito e
num piscar de olhos de Tiago, desapareceu.
Espera um pouco... o que aconteceu aqui?
Fantasmas não são malignos? Eram algumas das perguntas que vinham à mente
de Tiago quando este se deu conta que estava parado no meio do pátio. Esquecera
até de ir ao banheiro e retornou correndo a sala de aula.
As
horas passavam devagar, pois estava louco para compartilhar o ocorrido com Zaf.
Quando o intervalo finalmente chegou, Tiago iniciou:
-
Vi outro fantasma...
-
O quê? – respondeu surpreso o amigo.
-
É... Sabe a história que você me contou do diretor fantasma? Então... Eu o vi sexta-feira
à noite, quando vim fazer a prova enquanto passava pela sala de artes...
-
Ah... “cê” tá de brincadeira né? Eu te disse hoje lá no banheiro, aquilo e só
uma lend...
-
E vi hoje de novo! - interpelou rapidamente Tiago, antes que Zaf pudesse
terminar.
Contudo,
outra pessoa também prestava atenção na conversa. Era um colega de classe de
Tiago, o Daniel, um jovem de mesma idade, porém muito mais espiritualizado,
cresceu em berço evangélico graças a seus pais, frequentava as reuniões e
cultos desde que era bebê, por este motivo não se interessava por nenhum
assunto que diferisse dos mandamentos de Deus.
-
Não deixei de lhes ouvir a conversa... – disse Daniel.
-
Ihh... lá vêm, fica vendo... – respondeu Zaf se distanciando de Tiago. – Boa
sorte...
-
O que foi Daniel? – disse Tiago prestativo.
-
Você falou que esta vendo “demônios”, não é?
-
Não, estava vendo fantasmas... Não sei se eram bem demônios...
-
É, é a mesma coisa... Então eu queria te convidar para assistir a um culto na
minha igreja, você gostaria?
CRIAÇÃO
Michael
Menezes Martins
Márcio
de Sousa Mateus Jr.
REVISÃO
Nísia
Anália
Khal
Rens Cândido
Link para download do Cap IV:
E ai, gostaram do capítulo desta semana? se sim comentem, e não comentem tambem!!! >.<
Pode ser aqui ou la no Facebook do MEPT , queremos muito saber a opnião de vocês pessoal :D
E é isso ai, semana que vem tem mais em, fiquem ligados!
Té ô/
Muuito massa :D
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